Old is Gold - Naima Akef

13/07/2023

Naima Akef entrou para os livros de história da dança do Egito como uma de suas dançarinas mais inovadoras e criativas. Na Golden Era, Naima foi muito famosa por sua amizade, doçura e disponibilidade para ajudar seus amigos próximos e associados, bem como toda sua equipe de filmagem. Todos do meio artístico eram unânimes em dizer que Naima não foi influenciada pelo estilo de outras dançarinas, mas sim criou seu próprio estilo e tinha um sentimento muito pessoal na interpretação da música egípcia.

Naima Alef nasceu em 1932, na cidade de Tanta, no delta do Rio Nilo. Seu avô, Ismail Akef, um professor de ginástica na escola Umm Al Masryeen, em Giza, e treinador na Academia de Polícia do Egito, certa vez assistiu a um circo italiano que veio ao Cairo e ficou fascinado com o espetáculo. Decidiu pedir demissão de seu trabalho para criar seu próprio circo. O Circo Akef era conhecido por seus animais treinados, bem como por incríveis apresentações de dança e acrobacias extravagantes. Toda a família Akef participava dos trabalhos no circo, tanto nos shows como na parte de manutenção e cuidados dos animais. Ismail cuidou especialmente da preparação de Naima, reconhecendo seu talento artístico desde cedo.

Quando tinha 4 anos, seu pai usou de todo tipo de chantagens para que ela se motivasse a treinar, fazendo comparações constantes com irmã mais velha. Naima morria de ciúmes e treinava muito para superar a irmã. Tinha uma relação um tanto conflitiva com seu pai, chegando a tentar fugir do circo, mas a levaram de volta, e ela decidiu ficar depois de combinar um salário com seu pai. Certa vez, em Tanta, numa das festividades locais (El Muled) que eram feitos para celebrar o nascimento do Sheikh ElSayed El Badawi, durante a apresentação do circo Akef, Naima ganhou uma linda caixinha de música de um espectador. Todos os dias, quando estava sozinha, olhava a bailarina dançando e tentava imitar seu movimentos, assim, aprendeu a dançar. Certo dia, seu pai a surpreendeu, sacou a sua arma e atirou na caixinha de música, destruindo-a.

A família Akef morava no Cairo, no distrito de Bab El Khalq, entretanto viajava por todo o país e mesmo pelo mundo com suas turnês.

Em 1942, a polícia cercou a família Akef dizendo que seu pai, que era um jogador compulsivo, havia perdido tudo e seu circo e equipamentos seriam confiscados. Sua mãe, depois de se separar do seu pai, foi morar num pequeno apartamento com suas quatro filhas, na Rua Mohamed Ali, no Cairo. Elas faziam shows de acrobacia na rua para ganhar alguns trocados e garantir sua sobrevivência. Ali AlKassar, diretor de uma companhia de teatro da época, teve conhecimento dessas meninas que trabalhavam na rua e logo contratou Naima e suas irmãs para fazer pequenas participações em seus shows. Aquele pequeno salário ajudou a família a não passar fome. Foi nessa companhia que Naima conheceu o Clacket (sapateado), ela adaptou seus próprios sapatos e começou a treinar incansavelmente.

Com apenas 14 anos, ela criou um show cômico e acrobático, com monólogos e sapateado que realizou em diversos clubes. Foi pedir uma chance para mostrar seu número no famoso Cassino de Badia Massabni, que a princípio resistiu um pouco, mas ao final a aplaudiu calorosamente. Naima foi contratada e brilhava como uma estrela pois era uma das poucas garotas a cantar e dançar.

Era uma das favoritas de Badia, o que causava muito ciúmes nas outras dançarinas do clube, até um dia em que elas se juntaram e tentaram bater nela, mas graças à sua força e agilidade, ela conseguiu se defender e inverter a situação. Para evitar mais problemas entre suas dançarinas, Badia decidiu despedir Naima do Cassino.

Em 1949, fez sua primeira aparição no cinema como dançarina, no filme Sit el Beit, Dona de Casa, do diretor Ahmed Kamel Morsi.

Depois de sair do Cassino de Badia, Naima foi trabalhar em outra famosa casa noturna, o THE KIT KAT CLUB, onde conheceu o diretor cinematográfico Abbes Kamel, que a apresentou a seu irmão, o diretor Hessein Fawzy. Hessein era famoso por seus filmes musicais, e logo percebeu o talento natural de Naima para a tela, dando a ela o papel principal no filme "El Eish Wel malh" (O pão e o sal - 1949). Ela estreou neste filme ao lado do cantor Saad Abd Elwahab, primo do lendário cantor e compositor Mohammed Abdel Wahab. O filme foi um grande sucesso e um início brilhante para a jovem Naima, que era muito cuidadosa com suas performances, coreografando e ensaiando até os mínimos detalhes.

Após seu primeiro filme, Naima teve um sucesso após o outro como Lahalibo 1949, Baba 3aris (Papai é o noivo) 1950, este último a fez entrar nos livros de história do cinema como a primeira mulher a estrelar o primeiro filme inteiramente colorido do Egito. Fetet Esirk 1951, Ya Halawt El Hob 1952, onde atuou ao lado do cantor Mohamed Fawzy.

Toda a convivência no trabalho, transformou a relação de Naima e Hessein em uma história de amor e eles se casaram em 52. Ele era 25 anos mais velho do que ela. Como ela havia prosperado muito e sentia que não havia tido uma educação completa, por estar sempre envolvida com o circo desde pequena, Naima buscou a ajuda de professores e fez aulas de árabe clássico, inglês e francês.

Foi neste mesmo ano que ela ingressou na primeira companhia profissional de folclore do Egito, Leil ya Ain Group. Essa companhia foi fundada pelo grande escritor Dr. Ali Alray. A companhia encenou uma opereta lírica sobre a lenda "Ya leil ya ain" escrita por Yahya Haqqi, dirigida por Zaki Tulaimat e sua música foi composta por Abd ElHalim Noera. A bela lenda costumava dizer que a frase "Ya Leil, ya ain" que os árabes cantam em seu Mawwal (lamento) tem uma história:

O pescador, Leil, jogou a rede no mar, e pescou a sereia Ain, e eles se apaixonaram. A lenda termina com sua amada levando-o para as profundezas do mar para viver com ela em seu reino. E os pescadores correm para as praias em busca de "Leil" e cantam para os dois amantes, gritando: "Ya leil, ya ain" E continuam chamando-os para todo o sempre.

Os teatros conheceram a estrela Mahmoud Reda, que chamou a atenção por coreografar e interpretar o papel do pescador "Leil" junto a Naima Akef, que fez o papel da sereia "Ain". O filme Nur Ayouni 1954, veio depois desta representação teatral de Reda e Naima. No filme, o enredo apresentava o cantor Karem Mahmoud.

Aziza foi o filme que apresentava em sua trilha sonora a bela canção de Mohamed Abd Elwahab, do mesmo nome.

Um dos filmes de maior notoriedade foi Tamr Hena 1957, que era a história de um grupo de ciganos. Tamr Hena é o nome de uma flor e era o nome da personagem de Naima no filme. Ela fica dividida entre o amor do cigano do seu grupo, Rushdi Abbaza e o galã Ahmed Ramzy.

Em 1957, quando tinha 25 anos, Naima apresentou sua dança em um festival juvenil internacional da Rússia onde ganhou o primeiro prêmio de dança. Neste festival competiram dançarinas de mais de 50 países. Uma foto comemorativa desta vitória está exposta na parede do Hall da Fama do Teatro Bolshoi.

No filme Ahebak Ya Hassan 1958, ela apresentou a mesma dança e figurino que usou para ganhar o festival de Moscow em 57. E este foi o último filme dirigido por Hessein Fawzy que ela estrelou. Neste mesmo ano, Naima e Hessein, que foram casados por nove anos, se separam. Eles não tiveram filhos.

Seu último filme foi Amir Al Daha-a, Príncipe do Conhecimento em 1964. Que é uma adaptação da novela francesa de Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo, que terminou de ser escrita em 1846. Neste filme, ela contracenou com o grande ator Farid Shawqi.

Alguns anos após o divórcio, Naima casou-se com seu contador, Salah El Din Abd El Aleem. Ele era muito ciumento e não permitia que Naima usasse roupas de dança. Para evitar problemas conjugais, ela se afastou da vida artística para dedicar-se ao seu filho, que teve um pouco antes de seu próprio falecimento, em 1966, devido a um câncer, aos 37 anos.

Sua vida circense lhe servia como uma plataforma para sua dança, enquanto experimentava novas idéias, coreografias e músicas. Ela nunca poupou esforços no que se refere a medir despesas, treinar, fazer as próprias roupas ou dos outros participantes que a acompanhavam nos shows. Freqüentemente, Naima coreografava suas próprias seqüências, mas ficou conhecida por ser disciplinada e obediente a seus treinadores, técnicos e coreógrafos. Foi inspiração não somente para a seguinte geração de bailarinas, mas até os dias de hoje.

Claudia Cenci